estamos sempre finalizando coisas. um dia. um texto. uma conversa. um curto relacionamento.
mas me pergunto sempre quando as coisas as sensações se acabam realmente. existe um fim lógico? penso que sempre se segue sendo. uma coisa que vai se transformando, se desdobrando. vai seguindo, mesmo sem ser.
“Em sendo a obra o ato de fazer, você e ela tornam-se totalmente indissociáveis. Existe apenas um tipo de duração: o ato. O ato é que produz o “Caminhando”. Nada existe e nada depois. (…) O “Caminhando”, por exemplo, só passou a ter sentido para mim quando, atravessando o campo de trem, senti cada fragmento da paisagem como uma totalidade no tempo, uma totalidade sendo, se fazendo sob meus olhos, na imanência do momento. Era o momento a coisa decisiva. Outra vez, contemplando a fumaça do meu cigarro, senti como se o próprio tempo fizesse incessantemente seu próprio caminho, se aniquilando e se refazendo em um ritmo contínuo... Já experimentei isso no amor, nos meus gestos. E cada vez que a expressão “caminhando” surge na conversa, nasce em mim um verdadeiro espaço e me integro no mundo. Sinto-me salva.” Lygia Clark.
o discurso amoroso é de extrema solidão,
é o que defende roland barthes no seu livro fragmentos de um discurso amoroso. conheci o livro em um show letras e poesias da letrux, onde ela leu o seguinte trecho:
o livro traz diversos momentos e sentimentos que correm na cabeça de um enamorado. as sombras, projeções, criações, ilusões, desejos - códigos do amor. como falamos de sentimento?
as fontes do livro são compostas de pedaços diversos, de platão, do zen, de psicanálise, de conversas com amigos. mas trata sempre do imaginário. da palavra. do discurso.
não ironicamente, talvez me apaixonar seja escrever. “preciso escrever sobre isso".

"e agora, já estamos nos vendo todas as semanas e estamos sentados na escada da biblioteca mário de andrade você passa a mão no meu cabelo, um carinho tão singelo e gostoso, um gesto tão afetivo, é doce e macio. tudo isso enquanto a bel lê um poema, eu me emociono, finjo que é pelo poema, mas são as suas mãos dançando no meu cabelo, no meu rosto é este toque tão raro, bonito, fugaz, tão caro."
"outro dia, a sala está preenchida por my favorite things, do john coltrane, é um dos seus discos favoritos eu passo um café, me queimo, estou nervosa, minha mão dói muito e muito e você me diz: você precisa fazer as coisas com mais calma. você não sabe, mas eu estou queimando por dentro e você é uma das razões."
o exílio do imaginário
quando acabam os encontros, quando termina, quando é o fim
me encontro com o meu desejo, minhas imaginações malucas, minhas vontades e planos não realizados.
fica eu e a minha cabeça enamorada. elaborando.
“O trabalho é uma série de fotografias em preto e branco que retrata um poema visual – um caso de amor e ódio entre a língua e a linguagem, sem palavras, apenas imagens.
Segundo o depoimento da artista, a ideia surgiu da vontade de fazer um poema sobre a criação de um poema. Porém, a angústia frente à folha em branco a imobilizou – quem escreve conhece essa sensação. A solução foi concebê-lo não escrito, mas em sua forma visual. São seis fotografias, nas quais a língua da artista interage com a máquina de escrever. A língua é, simultaneamente, fala e órgão articulador da fala. Nessa metáfora, o ofício da escrita não depende mais das mãos. A língua toca (lambe) cada tecla, suprimindo a distância entre a grafia e o som ou, ainda, reduzindo a trajetória entre o imaginar e o se tornar.
Porém, nas fotografias seguintes, a língua parece ser violentada pelo mecanismo responsável por imprimir as letras no papel. O exercício de escrever se revela como sofrimento, como embate entre os sentidos e as palavras. A cada fotografia, cresce o desamparo da língua no terreno da linguagem – até restar só as hastes emaranhadas da máquina de escrever. Então, Poema evoca os limites da linguagem compartilhada, mas também acena para a conexão entre órgão da fala e a própria fala.”
nos vemos na próxima sessão
suas palavras vieram no momento certo!